quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Toque

 

 
 
 
Adornou-se naquela noite como nunca fizera antes. Não o conhecia bem, não sabia quase nada a seu respeito, apenas a lembrança de um sorriso franco e ligeiramente interessado, não apaixonado. Ele a desejava. Isso era o que sabia. Perfume suave sobre a pele um vestido leve, não vulgar; sandálias sem salto, não queria estar provocante, apenas ela; pouca maquiagem, um batom para hidratar os lábios da cor da pele mesmo.
Olhou-a de forma simples mas não desinteressada. Estava linda, sem extravagâncias não precisava disso o simples fato de existir já lhe era suficiente. Respirou fundo e inalou o aroma doce de seu perfume. Imediatamente sentiu a pele arrepiar-se no braço esquerdo. Cumprimentou-a com um abraço que lhe permitiu sentir o aroma de seus cabelos. Canela. A informação olfativa casava perfeitamente com a cor de sua pele. "Canela"repetiu baixinho enquanto se afastava.
Conversaram trivialidades do dia a dia, falaram de amores antigos, falaram da família, falaram dos amigos, falaram dos tempos de escola, falaram do clima, falaram da risada um do outro, falara das cicatrizes de infância, falaram dos sonhos, falaram do trabalho, enfim falaram de tudo mas não saíram do carro. Então silêncio. Ele olhou para frente respirou fundo outra vez e sentiu dissipado o cheiro de sua pele, ou seria seu cabelo? Canela. Voltou-se para ela.
Tinha medo, medo do que sentia, medo do que aconteceria. Sentiu o calor das mãos dele envolvendo as suas. Eram grandes, ásperas, fortes... Hesitou por um breve instante. Enfim tocaram-se. Sentiu a mão dele deslizando sobre o seu abraço; sentiu um toque suave em sua face, fechou os olhos e ele percebeu que ela estava entregue. Com a mesma leveza sua mão desceu a cintura dela. Seus olhos se abriram. A troca foi profunda. Ela pedia. Ele clamava.
Ele estava febril, os braços envolviam a sua cintura estavam a centímetros um do outro. Ele admirou seus lábios carnudos, voltou aos olhos castanhos profundos. Ela Clamava. Ele urrava. Ela sentiu o fulgor dos desejos dele e hesitou outra vez. "Acalme-se homem!" disse a si mesmo. Ele viu o rosto dela corar, pediu desculpas e elogiou o perfume que ela usava, ou seria o shampoo? Ela agradeceu e de repente se deu conta de que estava sendo cortejada. Levou as mãos aos cabelos dele, pendeu entre os dedos e puxou-o para si, agarrando-lhe a nuca, enquanto ele a envolvia em seus braços febris.
Ele a beijou no pescoço. Ela sussurrava de prazer, sentia a barba por fazer rasgado-lhe a pele delicada do colo. Ele afastou uma mexa de cabelo solta que cobria aqueles olhos amendoados e a beijou com uma urgência de quem jamais veria o amor de sua vida outra vez. Sentir seus lábios grossos e macios era como morder uma romã madura. Envolveu-a em seus braços e pediu em silêncio que jamais o deixasse, ela o amava em silêncio.
Ele a deixou em casa. Abraçaram-se. Ela beijou-lhe a testa e partiu

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